Novos Pergaminhos de Bilitis
há uns dez anos, mais ou menos, escrevi um livro de poemas em prosa inspirados em "
Les Chansons de Bilitis", do escritor francês
Pierre Louÿs. Quando lançou seu "Les Chansons" em 1894, Louÿs atribuiu a autoria do livro a uma suposta poeta grega (a tal Bilitis), que teria sido contemporânea de
Safo. Na verdade, tudo não passava de uma farsa, uma provocação, já que o próprio Louÿs era autor dos poemas. Como Safo e o amor lésbico estavam mega hypados naquele final de século 19, o escritor resolveu aproveitar a onda, menos por oportunismo e mais para provocar a crítica francesa que engoliu a farsa por um bom tempo. Eu li "Les Chansons de Bilitis" quando era adolescente e adorei. Aos 30, talvez sentindo que minha própria adolescência terminava (será que terminou? duvido), resolvi incorporar Bilitis. Nesta semana, na minha coluna do MixBrasil, Bolacha Ilustrada, publiquei 3 poemas deste meu livro inédito, jamais publicado, intitulado "
Os Novos Pergaminhos de Bilitis". Clique no
link e confira.
LadyFest Brasil 2006

foto de Cilmara Bedaque (crédito obrigatório)
a garota que está na foto comigo, empunhando uma guitarra, é
Elisa Gargiulo, do Dominatrix, banda-fundadora do Riot Grrrl brasileiro (essa foto foi tirada por Cilmara Bedaque antes de uma participação minha num show da banda no ano passado). A Elisa é uma das organizadoras do LadyFest Brasil 2006 que rola no próximo fim de semana aqui em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de março. O tema deste ano é
"Menino ou Menina? Gênero: o machismo torturando nossa identidade". Escrevi na semana passada uma coluna sobre
"Gênero & Feminismo" lá no Bolacha Ilustrada e aproveitei para fazer uma mini-entrevista com a Elisa que, além de guitarrista de responsa, feminista aguerrida e pessoa admirável, é minha amigona.
Confira o site do
LadyFest com a programação completa.
Politicamente responsáveis
coluna GLS da Revista da Folha de 12/03/2006[por Vange Leonel]
Seja lá quem ou o que nos criou nos fez de todas as cores, raças, sexos, espécies e orientações sexuais. Mas, quando alguém defende equiparação de direitos e tratamento ético para todos, é tachado de chato-politicamente-correto. Claro que a reivindicação de direitos não deve ser rancorosa, e eu acredito no poder revolucionário do humor. No entanto, os que se dizem contrários à correção política pecam igualmente pelo mau humor (e falta de originalidade) quando, por exemplo, chamam feminista de mal-amada e ambientalista de ecochato.
Confesso que não aprecio o termo "politicamente correto", porque acho correção algo mais apropriado para ambientes penitenciários. Prefiro a expressão "politicamente responsável", que implica responsabilidade por aquilo que se fala e faz, correto ou não. Quando você apela para tiradas do tipo "toda loura é burra" ou "não sei por que bato, mas minha mulher sabe por que apanha" pode até arrancar um riso ou outro, mas a piada tem fôlego curto: vai ter graça só até o momento em que sua mãe, irmã ou filha apanharem do marido e uma loura te superar num teste de inteligência.
É sempre bom lembrar que não existe fato fora de contexto, generalização que sempre se sustente ou ação (ou piada) sem responsabilidade e conseqüência. Não há razão ou espírito na provocação pela pura provocação. Precisamos de mais discussões generosas, contextualizadas, grávidas de suas próprias contradições, não-inocentes e aprofundadas. Reduzir a questão entre os que são contra ou a favor da correção política é burrice.
© Folha de S.Paulo
Hein?
a causa é boa, mas a tiradinha foi tremendamente infeliz. O secretário do CRIM (Comissão Interministerial para os Recursos do Mar) quer captar recursos privados para ajudar a manter a base brasileira de pesquisas científicas na Antártida (na
Folha de hoje). Contudo, no afâ de convencer empresas da necessidade de renovação da base, fez essa comparação:
"Uma estação científica não é como uma mulher, que está melhor aos 23 do que aos 15. Precisa de investimentos". Hein? Como assim? O contra-almirante José Eduardo Borges de Souza, o autor do comentário, precisa se explicar e se expressar melhor. Tá certo que marinheiros cultivam a "curiosa tradição" de dar nome de mulheres a seus barcos e o contra-almirante pode até ter o "costume" de comparar a base científica à sua namorada, esposa, filha, amante ou qualquer mulher. O fato é que tanto a "curiosa tradição" dos marinheiros como a frase infeliz do contra-almirante revelam um hábito execrável de tratar mulheres como objetos ou propriedades que, mesmo não "necessitando investimentos", melhoram com o tempo, assim como os vinhos que beberão mais tarde, com prazer de quem guardou um tesouro, trancado e escondido, aamadurecidos para seu paladar exigente.
Cyborg Manifesto
hoje eu quase vomitei depois de ler, em pleno 8 de março, um
artigo do bisbo da opus dei na página "tendências de debates" do jornal Folha de S.Paulo, onde o sujeito advoga que
"o homem tem o direito de se desenvolver como homem, e a mulher, como mulher - sem dar espaço a mimetismos que produzem crises de identidade, complexos psicológicos e problemas sociais de grande transcendência" . Bleargh!!! E o artigo anida se intitula "O mundo precisa do gênio feminino". Só restou a mim, depois da leitura indigesta, banhar-me mais uma vez nas libertadoras palavras de Donna Haraway. Como não tenho capacidade para traduzir seu texto com a exatidão e a sensibilidade necessárias, transcrevo aqui um trecho do "Cyborg Manifesto" no originial, em inglês O texto integral pode ser encontrado neste
link. Adoro a maneira como ela termina o Manifesto, dizendo que prefere ser um ciborgue a ser uma deusa. Eu também.
trecho do
"Cyborg Manifesto", de Donna Haraway"Contemporary science fiction is full of cyborgs - creatures simultaneously animal and machine, who populate worlds ambiguously natural and crafted. Modern medicine is also full of cyborgs, of couplings between organism and machine, each conceived as coded devices, in an intimacy and with a power that was not generated in the history of sexuality. Cyborg 'sex' restores some of the lovely replicative baroque of ferns and invertebrates (such nice organic prophylactics against heterosexism). Cyborg replication is uncoupled from organic reproduction. Modern production seems like a dream of cyborg colonization work, a dream that makes the nightmare of Taylorism seem idyllic. And modern war is a cyborg orgy, coded by C3I, command-control-communication-intelligence, an $84 billion item in 1984'sUS defence budget. I am making an argument for the cyborg as a fiction mapping our social and bodily reality and as an imaginative resource suggesting some very fruitful couplings. Michael Foucault's biopolitics is a flaccid premonition of cyborg politics, a very open field.By the late twentieth century, our time, a mythic time, we are all chimeras, theorized and fabricated hybrids of machine and organism; in short, we are cyborgs. Ths cyborg is our ontology; it gives us our politics. The cyborg is a condensed image of both imagination and material reality, the two joined centres structuring any possibility of historical transformation. In the traditions of 'Western' science and politics--the tradition of racist, male-dominant capitalism; the tradition of progress; the tradition of the appropriation of nature as resource for the productions of culture; the tradition of reproduction of the self from the reflections of the other - the relation between organism and machine has been a border war. The stakes in the border war have been the territories of production, reproduction, and imagination. This chapter is an argument for pleasure in the confusion of boundaries and for responsibility in their construction. It is also an effort to contribute to socialist-feminist culture and theory in a postmodernist, non-naturalist mode and in the utopian tradition of imagining a world without gender, which is perhaps a world without genesis, but maybe also a world without end. The cyborg incarnation is outside salvation history." © Donna Haraway
Paradoxo "Tostines"
[por Vange Leonel]coluna GLS publicada na Revista da Folha de 19/02/2006Quando iniciei minha vida de paquera e balada, no começo dos anos 80, a cidade de São Paulo já oferecia uma variedade de clubes e bares para o público homossexual. Mas, numa época pré-Parada GLBT, em que o ativismo gay e lésbico começava a se organizar no Brasil, os locais voltados para homossexuais eram um pouco mais "disfarçados" e não apareciam nos roteiros culturais GLS da grande imprensa. Eram praticamente guetos.
Muita gente pergunta por que nós, gays e lésbicas, precisamos de locais exclusivos para nos encontrar. Antigamente, a resposta seria óbvia: aqueles eram os únicos locais onde podíamos flertar e beijar sem medo de sermos agredidos por indivíduos ou grupos homofóbicos. Ainda hoje o argumento vale, visto que aversão e agressão a homossexuais continuam rolando, mesmo existindo leis para nos proteger.
Assim como heterossexuais cultivam preferências por este ou aquele bar de acordo com sua tribo, homossexuais também se concentram em alguns picos. Mas será que esta predileção por bares GLS reflete uma livre escolha ou deve-se ao fato de ali haver maiores chances de encontrarem pessoas afins? E se gays e lésbicas resolvessem paquerar em locais que não são marcados com a sigla "GLS"? Eu recebo muitos e-mails de casais homossexuais que foram convidados a se retirar de lugares "não-GLS", sob a alegação de que os clientes heterossexuais presentes não se sentiam à vontade com demonstrações homoafetivas. Afinal, o gueto nos protege ou nos aparta da sociedade? Não há resposta simples para esse "paradoxo Tostines".
© Folha de S.Paulo
Bate-Papo na Semana da Mulher
na semana que vem vai rolar uma série de eventos em torno do Dia Internacional da Mulher. A livraria Saraiva do Morumbi Shopping vai realizar bate-papos todos os dias e eu irei participar da conversa do dia 7.
dia: 7 de março, 3ª feira
horário: 19h30
local: Espaço Burle Marx - Saraiva Mega Store - MorumbiShopping
assunto: Sociedade, família e preconceitos
tema: A mulher perante a sociedade, a família e o homem - os tabus que já superamos com relação à homossexualidade e os obstáculos que ainda precisam ser vencidos.
participantes: Shirley Souza, redatora publicitária, escritora, artista gráfica, educadora e autora do livro Amor Entre Meninas, ed. Panda Books;
Milly Lacombe, diretora editorial da revista TPM e autora do livro Segredos de uma Lésbica para Homens, ed. Jaboticaba;
Vange Leonel, cantora, escritora, lésbica-feminista, colunista da Revista da Folha e autora do livro Balada para as Meninas Perdidas, edições GLS.
mais detalhes no site da
Semana da Mulher da Saraiva Mega Store,