Memórias de uma Mulher Macaca - capítulo 14 "Era uma vez um enorme vazio. Dentro deste vazio, como a força de um buraco negro tragando toda e qualquer matéria, uma ansiedade monstruosa que só fazia o vazio aumentar. Eu vivia dentro deste universo centrípeto, em colapso, onde emoções tão incipientes quanto intensas naufragavam num redemoinho sem fim..." (continua)
Memórias de uma Mulher Macaca - capítulo 13 "Dormimos de conchinha. No dia seguinte, como esperava, ela não comentou nada. Nem uma palavra. Desmontamos a barraca, preparamos as mochilas e retomamos a jornada..." (continua)
TV Arco-Íris coluna GLS publicada na Revista da Folha em 27/07/2008
por Vange Leonel
Se você acha que canal gay é sinônimo de sexo explícito, então não conhece a Logo TV. Cria da MTV americana, o canal inova em conteúdo e transmissão. Na programação, documentários, atrações de humor, minisséries dramáticas, notícias e especiais musicais. É "entretenimento para gays, lésbicas e qualquer pessoa que aprecie um ponto de vista GLS", afirmam seus produtores.
O canal é distribuído por operadoras a cabo, mas é possível acessá-lo por outros meios. Seus programas (sejam temporadas inteiras ou sejam episódios específicos) podem ser baixados para o computador por meio de downloads pagos via iTunes ou Amazon Unbox. Ou então descarregados diretamente no celular.
Infelizmente, as opções de recepção (cabo, computador e celular) só estão disponíveis para o território norte-americano. Até que essas fronteiras virtuais sejam derrubadas por uma autêntica globalização, brasileiros não têm como assistir à programação completa da Logo TV (no site logoonline.com são oferecidos apenas trechos como aperitivo). A saída é pescar vídeos dos programas no YouTube ou importar alguns dos DVDs já lançados pelo canal.
Minha dica, se você dominar o inglês, é o hilário "The Big Gay Sketch Show", uma espécie de "Saturday Night Live" GLS com um excelente time de comediantes. Esse tipo de humor (feito por gays e lésbicas, para gays e lésbicas, sobre gays e lésbicas e, acreditem, realmente engraçado) é algo inédito aqui no Brasil. Condições e bons humoristas para isso nós temos.
As mulheres de Lesbos coluna GLS publicada na Revista da Folha em 13/07/2008
por Vange Leonel
Tudo começou há uns cem anos, quando o psiquiatra Krafft-Ebing nomeou a relação homossexual entre mulheres de "amor lesbicus" em seus escritos sobre sexologia. O termo era uma óbvia referência à poeta lírica Safo, a mais célebre habitante da ilha grega de Lesbos, conhecida pelas canções de amor sensuais dedicadas às suas amantes. Tão influente a moça, inspirou de Platão (que a batizou de "a décima musa") a Baudelaire ("Safo viril, que foi amante e poeta").
Assim, baseada na famosa inclinação homoerótica da poeta, a palavra "lésbica" é usada desde o final do século 19 como sinônimo de mulher homossexual.
Incomodados com o seqüestro do termo para uso que julgam ofensivo, três cidadãos de Lesbos acionaram recentemente a Justiça grega pedindo a proibição da palavra "lésbica" para definir mulheres homossexuais. Alegam constrangimento quando suas filhas e irmãs têm que explicar que são lésbicas porque nasceram em Lesbos e não porque fazem sexo com mulheres. "As homossexuais têm todo o direito de se denominarem como quiserem, mas não podem roubar nossa identidade regional", dizem eles.
O prefeito de Lesbos diz que não apóia a ação dos seus conterrâneos. Não por acaso, as homossexuais representam fatia importante do turismo local, graças ao culto à ancestral Safo.
O importante é notar quanto preconceito pode existir por trás de ações que pretendem defender "a família" ou "a identidade nacional".
Casamento entre iguais coluna GLS publicada na Revista da Folha em 29/06/2008 por Vange Leonel
Deu no "New York Times": pesquisas acadêmicas mostram que, ao contrário do que se pensava, uniões homossexuais são em geral mais estáveis, maduras, saudáveis e felizes do que casamentos heterossexuais.
Em um estudo que acompanhou por três anos casais hétero e homossexuais, descobriu-se que as uniões homo são mais igualitárias que as de casamentos hétero. Enquanto boa parte dos casais hétero divide tarefas por gênero (tipo ela cuida da casa, ele, das finanças), os casais homo arcam juntamente com diversos tipos de empreitada.
O compartilhamento (e não a divisão) parece ser fonte de satisfação num casamento. Não à toa, os casais hétero que se diziam mais felizes eram os que não separavam suas funções de acordo com o sexo.
Outro estudo diz respeito à resolução de conflitos. Casais hétero têm seus batimentos cardíacos e níveis de adrenalina demasiadamente elevados durante uma discussão. Os casais homo, por outro lado, resolvem seus conflitos de maneira menos explosiva.
O motivo, especulam autores da pesquisa, é que homossexuais têm maior facilidade para se colocar na posição do parceiro. Já entre casais hétero, a dificuldade de "ver o outro lado" condena homens a viverem isolados em Marte e mulheres, em Vênus. Cria-se um fosso.
Pesquisas assim podem ser questionadas, é verdade. Mas uma coisa parece ser óbvia: a divisão de papéis sexuais e a assimetria de poder, seja entre casais hétero, seja entre casais homo, matam qualquer possibilidade de uma relação harmoniosa.
Memórias de uma Mulher Macaca - capítulo 12 "Ela estava na minha frente. Carne, osso e lábios querendo uma resposta: “e aí, posso ir com você?”. Respondi que sim, claro, achando que ela só estava a fim de me acompanhar por alguns quarteirões. Descemos a ladeira lado a lado e ela perguntou quais eram meus planos. Disse que viajaria até uma cidade vizinha, ali perto. Não entrei em maiores detalhes. Ela percebeu que eu tentava ser discreta. Apenas revelei que faria a pé os cerca de cento e vinte quilômetros. “Beleza!”, exclamou a menina, perguntando em seguida: “quando partimos?”. Como assim? Ela queria ir comigo? Desejava seguir a meu lado para além daquelas esquinas?"... (continua)
Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista.
Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.