26 dezembro 2005
  Ivone Gebara
é a autora do livro que terminei de ler às vesperas do natal, "As águas do meu poço". Doutora em filosofia e teologia, Ivone participou da elaboração da Teologia da Libertação, mas hoje é adepta da Teologia Feminista. Algumas pessoas se lembram dela por suas declarações às páginas amarelas da Veja, anos atrás, quando defendeu a descriminalização do aborto (ou interrupção da gravidez, como preferimos designá-lo). Silenciada pelo Vaticano em 1995, cumpriu sua pena, mas não calou suas inquietações. A busca pela liberdade é o fio condutor deste seu livro, lindíssimo e esclarecedor. Eu, que sempre a admirei à distância, há alguns meses a conheci pessoalmente (ela é grande amiga de uma grande amiga de minha mãe). Depois de ler seu livro, além da admiração, fui tomada pela sensação de estar menos só neste mundo.

PS. leia aqui uma entrevista de Ivone Gebara.
 
24 dezembro 2005
  ho ho ho

eu tinha muita vergonha de posar para fotos e não sabia o que dizer ou pedir a papai noel. Me lembro que relutei, mas minha mãe, acho, me convenceu a tirar essa foto. Não sentei no colo do bom velhinho (não me sentiria bem), apenas me apoiei no braço da cadeira e, me vendo em meio àquele cenário vermelho cintilante repleto de presentes e promessas, sorri.



 
21 dezembro 2005
  levantamos bandeiras, e daí?
muita gente pediu que eu comentasse a matéria de capa da Veja desta semana ("Sou bi, e daí?") em que a cantora Ana Carolina se declarou bissexual. Soou como novidade, mas a verdade é que a ela já havia feito essa mesma declaração em entrevista ao Jamari França no Globo, em 2004. O fato é que prefiro não comentar porque na edição de uma matéria jornalística as declarações do entrevistado muitas vezes são picotadas e, por isso, concedo à cantora o benefício da dúvida. Mas sei que algumas declarações da Ana magoaram muitos ativistas, alguns deles seus fãs. Assim, em vez de comentar, preferi fazer um tipo de "ação afirmativa" lá na minha coluna do Mix Brasil, sob o título de "Elas Levantam Bandeiras".
 
19 dezembro 2005
  coluna GLS
atendendo a pedidos, a coluna GLS da Revista da Folha de 11/12/2005.

Biografias

[por Vange Leonel]

Quando publicou seu livro "The Price of Salt", em 1952, Patricia Highsmith preferiu assiná-lo sob pseudônimo. Numa época em que o macarthismo assombrava a América, assumir a autoria de um romance pró-homossexualidade, principalmente para uma escritora iniciante, poderia representar o fim de uma carreira.

Ao contrário de outros romances baratos em voga, que exploravam temas igualmente picantes e condenavam à decadência suas personagens homossexuais, Highsmith escreveu sobre o amor entre duas mulheres sem recorrer a moralismos ou desfechos trágicos. Parece que agradou. Em pouco tempo o livro alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

Em 1990, a escritora finalmente assumiu a autoria do livro, republicando-o com o título de "Carol". Antes de morrer, acreditando que seria muita hipocrisia esconder parte crucial de sua vida, Highsmith deixou instruções claras a seus futuros biógrafos: não omitam minha homossexualidade. De fato, sua primeira biografia póstuma ("A Beautiful Shadow", ainda não lançada no Brasil) deixa explícito o papel fundamental de suas namoradas em sua vida e obra.

Para alguns, a homossexualidade de celebridades ou figuras históricas é detalhe sem importância. Eu, ao contrário, acho que uma biografia que não mencione as relações amorosas de seu biografado (homossexual ou não) priva o leitor de grande parte da história. Afinal, você engoliria uma biografia de Virginia Woolf que não citasse o marido Leonard ou a amante Vita? Pena, nem todos biografáveis são como Highsmith, que autorizou seu biógrafo a contar tudo.

© Folha de S.Paulo
 
14 dezembro 2005
  sereia na areia
Na coluna desta semana da Revista da Folha, comentei o fato da escritora Patricia Highsmith ter deixado instruções a seus biógrafos para que não omitissem sua homossexualidade. Coincidentemente, lá no blog do Pedro surgiu uma discussão sobre os limites do público e do privado numa biografia (motivada pela transcrição de uma carta íntima da Carmen Miranda). Eu, sinceramente, acho que depois que a pessoa está morta, tudo é história e merece ser contado. Naturalmente, cada biógrafo pode enxergar coisas diferentes numa mesma pessoa, pois toda visão é enviesada (com o perdão da redundância). Taí a beleza da coisa: múltiplos olhares, nenhum julgamento categórico, nada de biografia chapa-branca.

Assim, rompendo o limite entre público e privado, resolvi postar um flash da minha vida. Essa aí em baixo sou eu, aos 3 anos, na praia, brincando com um caminhãozinho de areia. Se há um lugar onde eu me sinto bem, plena, feliz e satisfeita, esse lugar é a beira do mar, zona limítrofe entre água salgada, espuma e areia. Parece até que ouço o barulhinho da maré retraindo e da espuma do mar estalando suas minúsculas bolhas de ar. Água lambendo a praia. Eu lambendo os beiços.

 
12 dezembro 2005
  de olho
na personagem Maria João (interpretada por Bianca Comparato), da novela global "Belíssima". A menina é uma moleca, se veste como um garoto, xinga, é esquentadinha, enfim, uma delícia. Mas, coitadinha, vive sofrendo pressões da irmã e da mãe para "se cuidar melhor", "se vestir melhor" e "se maquiar" de maneira a revelar sua beleza. Sei. Quer dizer então que para ser bonita tem que ser feminina? Parece que é esta a questão que o autor, Sílvio de Abreu, está jogando no ar: Maria João irá se transformar e ficar mais "feminina" ou descobrirá que pode ser moleca e linda, do jeito que é? Eu torço pela segunda hipótese. No Make Up Tips.
 
08 dezembro 2005
  the agile gene
é o nome do livro que terminei de ler esta semana. O autor, Matt Ridley, tenta enterrar de vez a nociva e ultrapassada dicotomia "aprendizado X inato" (em inglês, "nurture X nature"). Demorou. Há décadas a mestra (minha, da Kerby e das duas velhinhas da livraria da universidade de Seattle) Donna Haraway tenta dinamitar esta e outras dicotomias (falarei de DH depois, quando terminar de ler o livro que o Mauro Bedaque me trouxe de presente) . Não vou entrar em considerações sobre o "The Agile Gene" (Ridley tenta trafegar pelo caminho do meio, entretanto deixa transparecer sua eterna simpatia pelo lado "inato" da dicotomia), mas acho legal esclarecer uma coisa, pra quem não sabe ainda: genes podem ser "ligados" ou "desligados" a partir de informações do ambiente. Ou seja: não rola mesmo esse papo de "inevitabilidade genética", já que possuir este ou aquele conjunto de genes não significa necessariamente que uma pessoa irá desenvolver esta ou aquela doença, este ou aquele comportamento. Biologia não é destino. Infelizmente, adeptos das ciências sociais parecem imunizados contra explicações biológicas e adeptos da biologia parecem menosprezar razões sócio-culturais. Não há por que explicações biológicas excluírem as socio-histórico-culturais e vice-versa. Não é preciso escolher um lado da questão e demonizar o outro. A armadilha das dicotomias é essa: postulam um jogo de soma zero, onde um lado invalida o outro. Ledo engano.
 
07 dezembro 2005
  meu cu, vinícius
é o título de uma música de Jezebel, projeto encabeçado pela vocalista J. Iminente que, por acaso, é também amiga minha. A faixa "Meu cu, Vinícius" pode ser ouvida lá no site da Trama Virtual, mas o motivo deste post é mostrar para J.Iminente esse autógrafo aqui, do próprio Vinicius de Morais, dedicado minha mãe (Leninha) e sua filha, eu mesma. Me lembro muito bem daquele dia em 1978, em que minha mãe me pegou na escola e fomos direto para a livraria onde o poeta autografava seu novo livro, "O Falso Mendigo". Minha mãe era completamente apaixonada pelo Vinícius a ponto de deixar meu pai com ciúmes. E ainda chegou em casa com a dedicatória:

 
06 dezembro 2005
  coluna GLS
coluna publicada em 27/11 na Revista da Folha © copyright: Folha de S.Paulo

Entre céu e inferno
[por Vange Leonel]

Estabeleça uma dicotomia e você irá notar mais as diferenças do que as semelhanças. É claro que homens e mulheres ou héteros e homossexuais têm lá suas particularidades, mas quem disse que são totalmente opostos ou excludentes?

A bioantropóloga Sarah Hrdy especula que essa tendência para dicotomizar talvez seja um instinto humano. Nós percebemos as diferenças entre homens e mulheres, céu e terra, mente e corpo, e acabamos por contrapor essas categorias para percebê-las melhor. Mas podemos também opor mulher e menina, céu e inferno, terra e mar, mentes objetiva e subjetiva. Ou seja, podemos criar sucessivas dicotomias a perder de vista.

Essa propriedade dicotomizadora da mente pode ser útil para processar informações, mas também pode nos enganar e aprisionar. Afinal, homens e mulheres são muito mais parecidos do que reza o folclore, e mente e corpo, por exemplo, já não estão mais cindidos à luz da ciência.

Assim, a propensão à dicotomia deveria vir acompanhada de um lembrete: "Dualidade provisória para fim de análise em alto-contraste". Porque na vida existem nuances, os limites se dissolvem, e as coisas mudam de figura se jogamos sobre elas uma luz diferente.

Como o mercúrio usado pelos alquimistas para unir e separar os elementos, nossa mente talvez tenha potencial para operar com a mesma flexibilidade: dividindo e juntando, incessantemente. Homens e mulheres, héteros e homossexuais ou inferno e céu podem ser muito parecidos e estar intimamente ligados na maior parte do tempo.

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e como sou totalmente aberta a críticas e comentários, aproveito e publico aqui no blog a carta de uma leitora, em resposta a esta mesma coluna:

"Todo fim de semana é a mesma coisa, Vange Leonel simplesmente deixa a coluna sem sentido. Não agüento mais ler a mesma coisa sempre. A última, 'Entre céu e inferno', foi pura falta do que escrever." Ana Paula Portes, 22, webdesigner

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01 dezembro 2005
  rock de mina
As meninas do Dominatrix foram as primeiras a me falar do Rock n’ Roll Camp for girls, projeto empreendido por roqueiras de Portland, Oregon, para iniciar meninas no roquenrol. A Flávia, guitarrista do Dominatrix, escreveu sobre sua experiência como instrutora no "Rock n’ Roll Camp" de 2005 no site pop-feminista Quitéria, do qual sou colaboradora eventual. Flávia esclarece que a proposta do projeto é "ensinar meninas o básico em criação e execução de rock n'roll: vocal, bateria, guitarra, teclado, baixo, como escrever letras, construir melodias, noções de som e luz, além de defesa pessoal, história das mulheres no rock, como escrever fanzines e publicá-los". Outro dia, numa conversa de bar, a Flávia me disse que quer promover um roquenrol camp aqui no Brasil, talvez no próximo ano. Aliás, o Dominatrix, que completa 10 anos de existência, está no centro desta revolução roqueira feminista que já formou dezenas de bandas exclusivamente femininas ou com maioria de meninas (a Elisa, outra integrante do Dominatrix e amiga minha, é também idealizadora e organizadora do Quitéria e do Ladyfest Brasil, festival feminista de rock que já caminha para sua terceira edição). Juntas, todas essas iniciativas estão criando uma cultura de autoestima, valorização e independência do rock de mina e do feminismo jovem brasileiro.
 

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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.

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