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coluna GLS publicada na Revista da Folha em 25/11/2007
por Vange Leonel
Eu tento decifrá-la a todo o momento. Se não consigo saber seus segredos, é porque ela ainda é uma espécie de esfinge para mim.
Às vezes me pergunto se a interpreto mal de propósito, para que ela seja sempre uma incógnita, ou se ela me despista para que eu sempre volte.
Com o tempo, aprendi a viver assim, sem querer saber, tintim por tintim, o significado das coisas que ela diz para mim. Mas, se desisti de desvendar o mistério, descobri ser capaz de ler suas entrelinhas.
Não que eu queira conhecê-la por completo. Saber tudo a seu respeito seria uma forma de desmontar a paixão que se alimenta do desconhecido, das possibilidades e do futuro incerto. Não. Quero manter vivos a paixão e o mistério.
Por isso, prefiro conhecê-la aos poucos, coletando pistas e pedaços de informação. Ela também parece querer revelar-se a conta-gotas, por meio de suas charadas. Tudo para que eu volte sempre. E eu volto.
Nas entrelinhas de seus textos, leio novos sentidos, mas, sob cada véu levantado, outros cinco enigmas surgem.
Já quis deixar de vê-la e tentei prová-la, se não farsa, um truque dos deuses para me manter presa em sua caverna. Inútil. Curiosa, retorno sempre e me deito, repetidamente, sobre seus segredos.
Ela diz, embora não diga, que um dia saberei suas linhas de cor. Por enquanto, sigo tateando e adivinhando. Paixão é adorar uma esfinge.
Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.