Mas por que mudar a preferência sexual de um carneiro? Várias boas intenções foram listadas.
Em primeiro lugar, a busca pelo conhecimento puro e simples das causas da homossexualidade. Depois, a comprovação de que a homossexualidade teria uma razão biológica, não sendo, portanto, opção pela sem-vergonhice. Finalmente, o aumento da produtividade dos rebanhos por meio da "conversão" de carneiros gays, pois há tempos se sabe que 10% deles não se interessa por fêmeas e não procria.
Enfim, resta saber se as boas intenções de aumentar os rebanhos e de confirmar a causa biológica da homossexualidade renderão boas ações. Segundo Peter Singer, em "Libertação Animal", os rebanhos consomem mais alimento do que são capazes de gerar.
Portanto, um aumento de carne de carneiro consumível não diminuiria a fome no mundo, apesar de engordar o lucro dos criadores. E se, por outro lado, provarem que a causa da homossexualidade é biológica, certamente aparecerão pastores Mengeles propondo adotar a técnica usada nos carneiros para converter rebanhos humanos.
Eu apóio com entusiasmo o progresso da ciência. Mas sei que de boas intenções o inferno e os laboratórios de pesquisas estão cheios.
© Folha de S.Paulo
Recomenda-se jamais dar as costas para o mar após dar seus pulinhos, pois assim os caminhos serão abertos.
Nesta época do ano quase todos fazem promessas e pedidos para melhorar a vida ou abrir caminhos. Eu sempre fico um pouco confusa nesse momento. Parece pressão demais, difícil, quase impossível sintetizar tanto as esperanças, quanto os desejos e projetos. Por isso, admiro aquelas senhoras de idade que acumularam sabedoria suficiente para proferir platitudes (sem que soem falsas) e só pedem por saúde. Quando temos saúde, elas dizem, o resto se consegue.
Confesso que simpatizo também, por sua candura, com as misses de concurso que desejam a paz mundial. Obviamente é um desejo ingênuo e ao mesmo tempo ambicioso, senão impossível. Mas por que desejar apenas o possível?
Ainda assim, podemos ser mais modestos. Se nos caminhos que se abrirem houver obstáculos, não lamente: peça força para superá-los. E calma. Menos pressa no trânsito, mais trânsito de afetos, mais afeto no peito, peitos mais abertos e um sorriso no rosto como antidepressivo.
Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.