08 dezembro 2005
  the agile gene
é o nome do livro que terminei de ler esta semana. O autor, Matt Ridley, tenta enterrar de vez a nociva e ultrapassada dicotomia "aprendizado X inato" (em inglês, "nurture X nature"). Demorou. Há décadas a mestra (minha, da Kerby e das duas velhinhas da livraria da universidade de Seattle) Donna Haraway tenta dinamitar esta e outras dicotomias (falarei de DH depois, quando terminar de ler o livro que o Mauro Bedaque me trouxe de presente) . Não vou entrar em considerações sobre o "The Agile Gene" (Ridley tenta trafegar pelo caminho do meio, entretanto deixa transparecer sua eterna simpatia pelo lado "inato" da dicotomia), mas acho legal esclarecer uma coisa, pra quem não sabe ainda: genes podem ser "ligados" ou "desligados" a partir de informações do ambiente. Ou seja: não rola mesmo esse papo de "inevitabilidade genética", já que possuir este ou aquele conjunto de genes não significa necessariamente que uma pessoa irá desenvolver esta ou aquela doença, este ou aquele comportamento. Biologia não é destino. Infelizmente, adeptos das ciências sociais parecem imunizados contra explicações biológicas e adeptos da biologia parecem menosprezar razões sócio-culturais. Não há por que explicações biológicas excluírem as socio-histórico-culturais e vice-versa. Não é preciso escolher um lado da questão e demonizar o outro. A armadilha das dicotomias é essa: postulam um jogo de soma zero, onde um lado invalida o outro. Ledo engano.
 
Comments:
ai vange, achei genial este post por uma questão muito específica - o efeito da interação da possibilidade genética com o meio ambiente, criando outras variáveis, o que traz respostas (e um monte de outras perguntas) a respeito da natureza de nossas escolhas, talentos, potencialidades, desenvolvidas ou não.

eu conheci em paris uma cientista maravilhosa, chamada gusta trillo, com doutorado em genética e phd em estudos sobre o HIV. ela estuda intimamente e de maneira sistemática o comportamento das células do cérebro, as lesões causadas pelo HIV, e várias outras questões ligadas a isto.

uma das primeiras perguntas que afoitamente fiz para ela (dentro de um inferninho do marais lotado, imagine a cena) foi o que ela achava das pré-determinações genéticas X ambiências em nosso desenvolvimento. ela me disse exatamente isso: as variáveis são gigantes, porque o resultado final é uma equação delicada e complexa entre as duas coisas.

mas o mais legal é entender (via seu post) como isso opera - nos "ligamentos" ou "desligamentos" dos genes (que já estavam lá!), via interação com meio-ambiente.
amei.
 
NÃO EXISTE INEVITABILIDADE GENÉTICA, PRONTOESTÁPROVADO!

(isto é uma revolução!) :-)
 
Ora, aí está..Ser fundamentalista nunca deu bons resultados, nem mesmo na ciência...a natureza troca as voltas num ápice aos humanos e muito conhecimento está ainda oculto, apesar de estar mesmo aí, à espera de ser desvendado.
Black Bird
 
poootz, vange, cê sabe que concordo integralmente com esse ponto de vista (e, em parte, tenho aprendido e aperfeiçoado ele com você), né?

aliás, tenho pensado tanto numa dessas outras falsas dicotomias que nos acomete... sabe aquele negócio de a gente falar "eu" para se referir a nós mesmos e falar "meu corpo" para se referir ao nosso corpo? como se nós fôssemos um (a nossa "mente") e nosso corpo fosse outro, distante de nós, né?

e se, por acaso, não houvesse essas bipolaridades, e o nosso corpo fosse a nossa mente, e a nossa mente fosse o nosso corpo, tudo convivendo junto meio misturado ali numa "pessoa" só? e se "meu corpo" fosse "eu" mesmo?

ih, pirei na batatinha, hahaha...
 
Pedro, me lembrei daquela imagem que o filósofo Descartes elaborou, do homúnculo que mora dentro da cabeça de cada um de nós para se comunicar com nosso próprio corpo, o tal "Teatro Cartesiano" que, parece, deu início ao pensamento dualista ocidental. E agora a gente tem esse trabalhão de desfazer o teatrinho e arrancar as máscaras, né?
 
Jezzie, não é lindo isso dos genes ficarem ligando e desligando? tipo árvore de natal, tá ligado? hehe..
 
ENTÃO FOI O DESCARTES QUE INVENTOU O HOMÚNCULO????

porque no livro que o biu e eu lemos conta que o freud nomeou de "homúnculo", aquela "coisa" que ele não sabia ainda dar nome direito que morava dentro da nossa cabeça, o "inconsciente".

genial.

e é linda a imagem da árvore de natal!!!!!
 
haja trabalheira, vange... e pra completar a selvageria, ainda batizaram de "homúnculo", nunca de "mulherúncula", né?

depois ainda dizem que clone é coisa dos tempos modernos, hahahaha... já pensou que podre a idéia de um pedrúnculo em miniatura escondido aqui dentro, manipulando o bonecão?...
 
o pedrúnculo!!!!!!!!!!
HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAH

e a marciúncula!!!!!!!!
HAAAAAAAAAAAAAHAHHAHAHAHAHAHA
 
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.

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