06 dezembro 2005
  coluna GLS
coluna publicada em 27/11 na Revista da Folha © copyright: Folha de S.Paulo

Entre céu e inferno
[por Vange Leonel]

Estabeleça uma dicotomia e você irá notar mais as diferenças do que as semelhanças. É claro que homens e mulheres ou héteros e homossexuais têm lá suas particularidades, mas quem disse que são totalmente opostos ou excludentes?

A bioantropóloga Sarah Hrdy especula que essa tendência para dicotomizar talvez seja um instinto humano. Nós percebemos as diferenças entre homens e mulheres, céu e terra, mente e corpo, e acabamos por contrapor essas categorias para percebê-las melhor. Mas podemos também opor mulher e menina, céu e inferno, terra e mar, mentes objetiva e subjetiva. Ou seja, podemos criar sucessivas dicotomias a perder de vista.

Essa propriedade dicotomizadora da mente pode ser útil para processar informações, mas também pode nos enganar e aprisionar. Afinal, homens e mulheres são muito mais parecidos do que reza o folclore, e mente e corpo, por exemplo, já não estão mais cindidos à luz da ciência.

Assim, a propensão à dicotomia deveria vir acompanhada de um lembrete: "Dualidade provisória para fim de análise em alto-contraste". Porque na vida existem nuances, os limites se dissolvem, e as coisas mudam de figura se jogamos sobre elas uma luz diferente.

Como o mercúrio usado pelos alquimistas para unir e separar os elementos, nossa mente talvez tenha potencial para operar com a mesma flexibilidade: dividindo e juntando, incessantemente. Homens e mulheres, héteros e homossexuais ou inferno e céu podem ser muito parecidos e estar intimamente ligados na maior parte do tempo.

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e como sou totalmente aberta a críticas e comentários, aproveito e publico aqui no blog a carta de uma leitora, em resposta a esta mesma coluna:

"Todo fim de semana é a mesma coisa, Vange Leonel simplesmente deixa a coluna sem sentido. Não agüento mais ler a mesma coisa sempre. A última, 'Entre céu e inferno', foi pura falta do que escrever." Ana Paula Portes, 22, webdesigner

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Comments:
mas ela continua lendo...
 
Sinceramente, não costumo ler a coluna da Vange, porém, julgo o comentário da Paula completamente impertinente com relação a esse texto.
Partindo do pressuposto que as "palavras refratam", conforme postulou Bakthin, e mais, que o leitor é co-autor do texto, cabe ao indivíduo saber ler nas entrelinhas, impriimir a sua carga de subjetividade ao mesmo, uma questão de mímesis, pois só assim poderá (re)construir um significado próprio, e muitas vezes maior do que a intenção do autor.

O texto, em si, é muito bom. Leva à uma boa reflexão.
Muito bom, Vange. Parabéns.
 
hum, primeiro quero "estrear" aqui dizendo que é uma grande, grande, grande, grande novidade a fundação do blog da vange!!!! comemoro!!!

em segundo, acho que a garota de 22 anos lá tá um pouquinho "platônicapaixonada", não tá, não? porque, se uma coisa é "pura falta do que escrever", por que é que alguém vai escrever dizendo que aquilo que foi escrito é "pura falta do que escrever"? hummmm...
 
Se essa Paula não gosta de ler a coluna de Vange, por que motivo continua lendo? Mas fique sabendo que há pessoas que apreciam muito ler Vange e ouvir as músicas dela!! A Paula deve mesmo é continuar a ler revistinhas da walt disney e coleccionar bonequinhas cute, que de certeza não complicam o seu espírito ainda tão verde.
Black Bird
 
pedro, andréa e blackbird, benvindos aqui!

olha, depois de quase 8 anos escrevendo colunas gê-éle-ésses nos mais variados espaços, de vez em quando eu mesma tenho a sensação de que tudo já foi dito (ou escrito). Mas acho que há sempre uma nova maneira de dizer a mesma coisa e, infelizmente, nessa área (digamos que eu faça proselitismo anti-homofobia e anti-sexismo) é preciso repetir a mesma coisa trocentas vezes, de fato. E não me envergonho disso.
 
ah, vange, que nada... eu não ouço ninguém falar que o amor é tema batido ou repetitivo, a cada vez que surge alguma nova canção ou um novo escrito sobre o amor, ou a cada vez que joão gilberto canta de novo a bossa nova e o amor e o sorriso e a flor... já se for sobre o amor gay, é bem possível que alguém pule correndo pra dizer que o assunto tá velho, batido ou não faz sentido... como (não) cantaria o ataulfo alves, o pânico nessa gente é uma arte...

ai, fui relembrar e não resisto )também tá bem passadinho e desgastadinho, mas não deixa de ser bem bonitinho, né?):

"pois é"
(ataulfo alves)

pois é, falaram tanto que dessa vez
a morena foi embora
disseram que ela era a maioral
e eu é que não soube aproveitar
endeusaram a morena tanto tanto
que ela resolveu me abandonar

a maldade dessa gente é uma arte
tanto fizeram que houve a separação
mulher a gente encontra em toda parte
só não encontra a mulher que a gente tem no coração"
 
essa música o atá fez sobre e para mim, hihihihihh
 
porra, não, e isso é que é legal né?: "não aguento mais ler". imagina o dia que a coisa não seja obrigatória: talvez a guria fique mais feliz. =P
cara, crítica de destrutivo caindo pro anódino é totalmente desprezível...
ai ai.. dicotomar or not.. that's the big question.. rs...
 
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.

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