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coluna publicada em 27/11 na Revista da Folha © copyright: Folha de S.PauloEntre céu e inferno
[por Vange Leonel]
Estabeleça uma dicotomia e você irá notar mais as diferenças do que as semelhanças. É claro que homens e mulheres ou héteros e homossexuais têm lá suas particularidades, mas quem disse que são totalmente opostos ou excludentes?
A bioantropóloga
Sarah Hrdy especula que essa tendência para dicotomizar talvez seja um instinto humano. Nós percebemos as diferenças entre homens e mulheres, céu e terra, mente e corpo, e acabamos por contrapor essas categorias para percebê-las melhor. Mas podemos também opor mulher e menina, céu e inferno, terra e mar, mentes objetiva e subjetiva. Ou seja, podemos criar sucessivas dicotomias a perder de vista.
Essa propriedade dicotomizadora da mente pode ser útil para processar informações, mas também pode nos enganar e aprisionar. Afinal, homens e mulheres são muito mais parecidos do que reza o folclore, e mente e corpo, por exemplo, já não estão mais cindidos à luz da ciência.
Assim, a propensão à dicotomia deveria vir acompanhada de um lembrete: "Dualidade provisória para fim de análise em alto-contraste". Porque na vida existem nuances, os limites se dissolvem, e as coisas mudam de figura se jogamos sobre elas uma luz diferente.
Como o mercúrio usado pelos alquimistas para unir e separar os elementos, nossa mente talvez tenha potencial para operar com a mesma flexibilidade: dividindo e juntando, incessantemente. Homens e mulheres, héteros e homossexuais ou inferno e céu podem ser muito parecidos e estar intimamente ligados na maior parte do tempo.
------------------------------------------------------------------------------------------------e como sou totalmente aberta a críticas e comentários, aproveito e publico aqui no blog a carta de uma leitora, em resposta a esta mesma coluna: "Todo fim de semana é a mesma coisa, Vange Leonel simplesmente deixa a coluna sem sentido. Não agüento mais ler a mesma coisa sempre. A última, 'Entre céu e inferno', foi pura falta do que escrever." Ana Paula Portes, 22, webdesigner------------------------------------------------------------------------------------------------Marcadores: coluna GLS Folha