Ditadura gay
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 21/03/2010
por Vange Leonel
Tempos atrás
escrevi sobre um caso de perseguição a uma jogadora lésbica na comunidade de jogos on- line XboxLive. Após o episódio, a Microsoft, fabricante do console e dona do site, pediu ajuda ao Glaad (associação contra a difamação de gays na mídia) para formular uma regulamentação para inibir os ataques homofóbicos.
Há poucos dias, o novo código de conduta do XBoxLive foi atualizado. Agora, jogadores poderão adotar apelidos usando as palavras gay, lésbica, hétero, bi ou transgênero sem medo de serem admoestados. Aquele que usar estas ou outras palavras para ofender a orientação sexual de outro jogador poderá ser banido da comunidade virtual.
Muitos acham esse tipo de regulamentação desnecessária e ridícula. Dizem que é chatice politicamente correta. Outros, mais paranoicos, acreditam que é mais um sintoma da "ditadura gay" que se alastra pelo mundo.
Não riam. É sério. Quando surge na internet alguma notícia sobre visibilidade de gays na TV ou falando de direitos (iguais, e não especiais) para homossexuais, leio algum comentário infeliz aludindo à tal "ditadura gay".
Pois bem: sabe a licença maternidade que é garantida por lei à trabalhadora que teve filho? Se não fosse um bando de feministas comunistas (que hoje seriam chamadas de chatas), você (ou sua mulher) não teria direito ao tempo remunerado para cuidar do bem mais precioso do capitalismo: o próprio produtor de capital. Sei que reclamar é chato. Mas é preciso. E o Brasil não é Uganda (ainda).
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Leis Naturais no BBB?
confesso q escrevi essa coluna pensando no BBB. Aliás, há muitos anos venho comparando essas experiências de confinamento com estudos antropológicos sobre nossos companheiros primatas. Ontem o Bial, no discurso de eliminação, citou o antropólogo Richard Wrangham, q inspirou esta e outras colunas minhas. Taí pra vcs:
Leis Naturaiscoluna GLS publicada na Revista da Folha em 7 de março de 2010[por Vange Leonel]Eles eram todos da mesma espécie e formavam uma grande família. Um dia, por acaso ou destino, uma grande corredeira dividiu a comunidade em duas. Um rio se formou e as tribos passaram a viver separadas por aquela extensão de água intransponível.
Muitos anos depois, os grupos, antes parecidos, foram se transformando. Na margem norte do rio, a turma "A" disputava a comida escassa entre si e também com alguns vizinhos corpulentos. Com o tempo, aprenderam que a lei do mais forte compensava. Enquanto isso, no lado sul do rio, a turma "B" encontrou só fartura: comida em abundância e ninguém truculento para ameaçá-la. Ninguém ali brigava por alimento. Por força da natureza e das circunstâncias, aprenderam que a lei da cooperação funcionava melhor para eles.
Essa é a história simplificada de como a evolução atuou de maneira diversa ao moldar nossos primos mais próximos: os agressivos chimpanzés (A) e os pacíficos bonobos (B). O antropólogo Richard Wrangham afirma, em "O Macho Demoníaco", que a escassez de alimento tornou a sociedade dos chimpanzés mais violenta e hierarquizada. Ao passo que a fartura teria promovido paz, harmonia e um certo igualitarismo entre os bonobos.
Enfim, crie um ambiente estressado, onde impere a carestia e o medo de eliminação, e a lei será a da força. Promova fartura e a lei que vai valer é a do prazer.
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