Ditadura gay
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 21/03/2010
por Vange Leonel
Tempos atrás
escrevi sobre um caso de perseguição a uma jogadora lésbica na comunidade de jogos on- line XboxLive. Após o episódio, a Microsoft, fabricante do console e dona do site, pediu ajuda ao Glaad (associação contra a difamação de gays na mídia) para formular uma regulamentação para inibir os ataques homofóbicos.
Há poucos dias, o novo código de conduta do XBoxLive foi atualizado. Agora, jogadores poderão adotar apelidos usando as palavras gay, lésbica, hétero, bi ou transgênero sem medo de serem admoestados. Aquele que usar estas ou outras palavras para ofender a orientação sexual de outro jogador poderá ser banido da comunidade virtual.
Muitos acham esse tipo de regulamentação desnecessária e ridícula. Dizem que é chatice politicamente correta. Outros, mais paranoicos, acreditam que é mais um sintoma da "ditadura gay" que se alastra pelo mundo.
Não riam. É sério. Quando surge na internet alguma notícia sobre visibilidade de gays na TV ou falando de direitos (iguais, e não especiais) para homossexuais, leio algum comentário infeliz aludindo à tal "ditadura gay".
Pois bem: sabe a licença maternidade que é garantida por lei à trabalhadora que teve filho? Se não fosse um bando de feministas comunistas (que hoje seriam chamadas de chatas), você (ou sua mulher) não teria direito ao tempo remunerado para cuidar do bem mais precioso do capitalismo: o próprio produtor de capital. Sei que reclamar é chato. Mas é preciso. E o Brasil não é Uganda (ainda).
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