As mulheres de Lesbos
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 13/07/2008 por Vange Leonel Tudo começou há uns cem anos, quando o psiquiatra Krafft-Ebing nomeou a relação homossexual entre mulheres de "amor lesbicus" em seus escritos sobre sexologia. O termo era uma óbvia referência à poeta lírica Safo, a mais célebre habitante da ilha grega de Lesbos, conhecida pelas canções de amor sensuais dedicadas às suas amantes. Tão influente a moça, inspirou de Platão (que a batizou de "a décima musa") a Baudelaire ("Safo viril, que foi amante e poeta").
Assim, baseada na famosa inclinação homoerótica da poeta, a palavra "lésbica" é usada desde o final do século 19 como sinônimo de mulher homossexual.
Incomodados com o seqüestro do termo para uso que julgam ofensivo, três cidadãos de Lesbos acionaram recentemente a Justiça grega pedindo a proibição da palavra "lésbica" para definir mulheres homossexuais. Alegam constrangimento quando suas filhas e irmãs têm que explicar que são lésbicas porque nasceram em Lesbos e não porque fazem sexo com mulheres. "As homossexuais têm todo o direito de se denominarem como quiserem, mas não podem roubar nossa identidade regional", dizem eles.
O prefeito de Lesbos diz que não apóia a ação dos seus conterrâneos. Não por acaso, as homossexuais representam fatia importante do turismo local, graças ao culto à ancestral Safo.
O importante é notar quanto preconceito pode existir por trás de ações que pretendem defender "a família" ou "a identidade nacional".
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OBS: uma semana após este texto ser publicado, a justiça grega decidiu que o termo "lésbica" é universal e pode ser usado por mulheres homossexuais. Os 3 cidadãos gregos perderam a ação.Marcadores: coluna GLS Folha