Fumacê
Eu já havia tocado no assunto num capítulo do meu romance "
Balada para meninas perdidas": o que mais me deixa irritada nas baladas é o cheiro de cigarro que fica impregnado nas roupas e nos cabelos quando chego em casa. Mesmo quando era fumante, o ar irrespirável das pistas com centenas de baladeiros fumando ao mesmo tempo me sufocava. Esta semana, lá na
coluna do Mix, resolvi falar do assunto, mesmo correndo o risco de parecer chata. Afinal, desde o contracultural "é proibido proibir" o veto ao tabaco, mesmo que em lugares públicos e fechados, gera controvérsia. Mas é bom lembrar que se você acende um cigarro em local fechado a pessoa ao seu lado vai acabar fumando por tabela, sem consentir nem desejar (e já foi provado que o fumo passivo é prejudicial à saúde). Fazendo uma analogia, seria como você empurrar pela goela de uma pessoa uma comida que ela não quer comer. Ou fazer com que ela tome uma droga sem que ela queira a viagem ou o prejuízo. Uma violência, portanto. Mas que ninguém se dá conta.
Dolores Duran

Quando eu penso em Dolores Duran uma imagem vem à minha mente: minha mãe, um copo de uísque e sua mão e lágrimas escorrendo por seu rosto enquanto um disco de Dolores roda na vitrola. Eu era só uma criança, mas a cena (que deve ter se repetido algumas vezes) me marcou.
Naquela época o tipo de canção que Dolores cantava era às vezes chamada de "música de fossa". Fossa era aquilo que hoje se chama "deprê". Será que Dolores era o prozac dos anos 50/60? Ou será que Dolores, se não aliviava dolores, expressava tão completamente nossas dolores que nos fazia esquecer, pelo menos momentaneamente, nuestras dores?
Enfim, desde cedo gostei de Dolores. Por minha mãe, por nossas dolores, pelos sambas-canções e pela primeira pessoa do singular feminino que ela tornou evidente em suas letras.
Em 1998 eu gravei numa demo tape um medley de
"Por causa de você" (Dolores Duran/Tom Jobim) e
"I can dream, can´t I?" (Sammy Fain/Irving Kahal). Essa gravação pode ser ouvida lá no meu
MySpace.
Nova Coluna no Mix Brasil
Depois de muitos anos assinando o
Bolacha Ilustrada, mudei de espaço lá no site do Mix Brasil. Agora assino uma coluna que leva meu próprio nome ("
Vange Leonel"), onde irei abordar um leque maior de assuntos para além da homossexualidade. Como explico no meu
texto inaugural, a ótica lésbica estará, inevitavelmente, permeando tudo. Afinal, minha subjetividade sáfica contamina tudo o que faço. Naturalmente...
PS. todos os meus
textos antigos do Bolacha Ilustrada, escritos de 2002 até outubro de 2006, continuam arquivados no site, é só acessar.
Uma pioneira na Casa Branca
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 29/10/2006
por Vange Leonel Ação afirmativa ou pura discriminação? Em 1933, a primeira-dama dos Estados Unidos Eleanor Roosevelt resolveu que daria entrevistas na Casa Branca só para mulheres jornalistas. No início, eram abordados assuntos amenos, que se supunham adequados a uma primeira-dama. Depois, quando ela se engajou na luta por direitos civis (de mulheres, jovens, negros e pobres), as coletivas adquiriram um tom mais político.
O fato é que a decisão de instituir coletivas só para repórteres do sexo feminino obrigou os donos de jornais a contratar mulheres para trabalhar nas redações de política, algo incomum na época. Note-se: a sugestão dessas coletivas femininas foi de Lorena Hickok, assessora de imprensa da primeira-dama que muitos afirmam ter sido sua amante.
Sim, a senhora Roosevelt, parece, tinha propensões lésbicas. Gore Vidal, em seu recente volume de memórias, revela que ela "nutria uma paixão sáfica" pela aviadora Amelia Earhart, sentimento que Amelia achava "desconcertante". A primeira-dama, dizia Earhart, "sempre sugeria que voassem juntas pelo país, somente as duas, comungando com o vento e as estrelas".
Inconfidências à parte, Eleanor Roosevelt possuía um temperamento que não se restringia às funções secundárias típicas de uma primeira-dama da época. Foi mais que dama. Incomodou muita gente. Tornou-se peça importante na luta global por direitos humanos.
© Folha de S.Paulo

Amelia Earhart e Eleanor Roosevelt durante um vôo noturno sobre Washington e Baltimore (21 de abril de 1933) - © Purdue University Libraries, Archives and Special Collections
Fix Pá
Em 1984 nós nos juntamos para fazer uma banda. Éramos todos (e somos ainda) muito amigos: Vange Leonel, Laura Finocchiaro, Fernando Figueiredo, Natalia Barros, André Gordon e Mauro Sanches. O Fix Pá nasceu quando nos inscrevemos para um festival de música GLS na boate Hunter´s. Inscrevemos a canção Garota Ilustrada, minha e de Fernando. Depois disso, a banda continuou uma breve carreira pelo circuito de danceterias de São Paulo. Fizemos uma meia dúzia de shows durante nosso ano e meio de existência.
O nascimento durante um festival GLS tinha uma razão: dos seis integrantes, éramos dois gays, duas lésbicas e dois simpatizantes. Nossas músicas tinham por regra misturar estilos. Todos da banda tocavam mais de um intrumento e trocávamos a formação inúmeras vezes durante o show. Fora o Mauro, todos cantavam e iam para frente do palco. No fundo, o Fix-Pá era uma banda Queer. Queer Pop.
Disponibilizamos no YouTube um sambapunk (não me lembro o nome da música) que tocamos num show que fizemos no Radar Tantã em 1985. A câmera é da Cilmara Bedaque. Digitalizamos a partir de uma cópia da cópia da cópia de uma fita VHS.
clique
AQUI para assistir.
a letra da música:
parado no farol foi que eu pude percebervendendo-me chicletes para ter o que comerem toda avenida muita fomede viverno enredo da agonia sempre houveram muitas alasseguindo separadas mas fazendo a mesma malasei que é sempre muito mais difícilantes do amanheceros homens ocupadosnas salas nos negóciosvocê atrapalhado com a saúde dos seus ócios
ócios sóciosnós não temos instrumentosmas queremos trabalharfazer do nosso jeitopassagem pra avançarjá