Quem tem medo de vizinho gay?
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 06/08/2006por Vange LeonelNo dia 25 de julho, a
Folha publicou uma pesquisa feita pela Unesco: 47% dos jovens brasileiros não gostariam de morar ao lado de um vizinho gay. A mesma matéria mostrou outro estudo (da Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura) sobre homofobia nas escolas, revelando um alto índice de preconceito contra gays e lésbicas nos colégios.
Depois de ler, me perguntei: será que esses jovens não querem um vizinho ou colega gay porque pensam (precipitada e erroneamente) que todo homossexual tem caráter duvidoso? Será que eles imaginam (tortuosamente) que gays e lésbicas representam ameaça de paquera ou assédio?
Se eles pensam assim, são tolos. Basta enxergar o outro lado: há vizinhos heterossexuais amáveis e outros indesejáveis, assim como há colegas de escola héteros legais e outros não muito. Heterossexuais também paqueram e alguns chegam a assediar sexualmente. Aos héteros que paqueram inofensivamente pode-se responder aceitando ou rechaçando o convite, denunciando à polícia os que assediam sexualmente. Idem, em relação aos homossexuais.
O problema é que ninguém repara em gays e lésbicas "bem-comportados". Muitos preferem pensar que só existem bichas e sapatões predadores de heterossexuais e estendem essas características a todos os homossexuais. Esse tipo de generalização, porém, não ocorre com heterossexuais. Quando um hétero pisa na bola, ele é apenas uma pessoa que pisa na bola. Mas, quando um homo faz coisa errada, os preconceituosos dizem que ele faz errado porque é homo. Percebam o viés: um é pessoa, o outro é homo. A verdade é que a orientação sexual não define o caráter de ninguém.
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