05 março 2006
  Paradoxo "Tostines"
[por Vange Leonel]
coluna GLS publicada na Revista da Folha de 19/02/2006

Quando iniciei minha vida de paquera e balada, no começo dos anos 80, a cidade de São Paulo já oferecia uma variedade de clubes e bares para o público homossexual. Mas, numa época pré-Parada GLBT, em que o ativismo gay e lésbico começava a se organizar no Brasil, os locais voltados para homossexuais eram um pouco mais "disfarçados" e não apareciam nos roteiros culturais GLS da grande imprensa. Eram praticamente guetos.

Muita gente pergunta por que nós, gays e lésbicas, precisamos de locais exclusivos para nos encontrar. Antigamente, a resposta seria óbvia: aqueles eram os únicos locais onde podíamos flertar e beijar sem medo de sermos agredidos por indivíduos ou grupos homofóbicos. Ainda hoje o argumento vale, visto que aversão e agressão a homossexuais continuam rolando, mesmo existindo leis para nos proteger.

Assim como heterossexuais cultivam preferências por este ou aquele bar de acordo com sua tribo, homossexuais também se concentram em alguns picos. Mas será que esta predileção por bares GLS reflete uma livre escolha ou deve-se ao fato de ali haver maiores chances de encontrarem pessoas afins? E se gays e lésbicas resolvessem paquerar em locais que não são marcados com a sigla "GLS"? Eu recebo muitos e-mails de casais homossexuais que foram convidados a se retirar de lugares "não-GLS", sob a alegação de que os clientes heterossexuais presentes não se sentiam à vontade com demonstrações homoafetivas. Afinal, o gueto nos protege ou nos aparta da sociedade? Não há resposta simples para esse "paradoxo Tostines".

© Folha de S.Paulo
 
Comments:
É, não há respostas simples porém, continue questionando!Parabéns!
 
boa pergunta.
acho que a resposta tá mais ou menos por aqui "heterossexuais cultivam preferências por este ou aquele bar de acordo com sua tribo".
acho também que dentro do conceito "bares gays" ainda tem um monte de subdivisões também.
por exemplo: os gays que não frequentam lugares gays, preferem lugares mix que são frequentados quase que exclusivamente por gays que não frequentam lugares gays, entendeu?
o resto é omelete de frango.
 
obrigada, anônimo...

hahaha, charlotte, vc atingiu o ápice da sofisticação paradóxica com esse seu exemplo, ótimo!
 
hm, gueto é meio que nem óculos, quanto mais vc usa, mais acaba dependendo de.. =/..
mas infelizmente minha cútis não vai presenciar incólume o tráfego livre livre em todos os locais (vc viu a propaganda da spfw?.. meio que institui, ou qualifica e tal, que em poucos lugares todos - independente de sua 'diferença' - se sentem bem).
Eu acho que gueto aparta mas infelizmente é um mal necessário, sometimes. Pq, aff, não é resignismo e tal, mas tem dias que vc não tá com a menor paciência pra matar o leão que espera INEVITAVELMENTE na próxima esquina... mas também o trabalho de alastrar a área dos lugares 'livres' e tal é meio feito com a faca na boca que nem naquelas conquistas de território antigas (rs..), tem jeito não.. é a ditadura dos 00, a do ir-e-vir, e o sangue da gente fica derramado cada vez que tem que recolher pra dentro de si a vontade de andar como e quanto e com quem quiser... enfim...=/
bjos vange! =D
 
hahahaha, eu também AMEI essa descrição "os gays que não frequentam lugares gays, preferem lugares mix que são frequentados quase que exclusivamente por gays que não frequentam lugares gays". inclusive (pronto, confessei!), acho que vou muito a lugares assim, hahahahaha...

ô, vida...
 
é, eu também frequento esses lugares heteromix, sabe? afinal, tá todo mundo lá.

mas tenho a confessar que adoro lugares gays. é como andar pelada em casa.
 
Eu cheguei a este blog hoje, mas devo já dizer que gostei muito do que li!
Em Portugal, infelismente, nem seuqer há ainda muitos lugares heteromix, como a Charlotte resume.
Eu também confesso preferir esses lugares aos exclusivamente gay/lésbicos, mas ainda há muito trabalho a fazer para abrir mentalidades aqui, mentalidades hetero e homossexuais.
Parabéns pelo blog e pela serenidade que me parece já haver no Brasil acerca da comunidade lgbt.
 
Denise, eu concordo contigo e confesso que gosto de ir a lugares majoritariamente lésbicos porque gosto do ambiente de paquera generalizada entre mulheres, sem ter que ficar tentando descobrir se fulana é ou não é dyke. Mas gosto de variar também (se bem que não sou muito baladeira - minha variação é casa, casa, casa, bar (cedo), casa, casa casa, restaurante, casa, casa, casa, casa dos amigos, casa, casa, casa, show, casa, casa, casa, balada (cedo), casa, casa, casa, etc, casa). Mas continuo achando chatésimo ir a àquelas festas em que alguns caras heteros desavisados ficam babando em cima da gente.

Pedro e Charlotte, um dia vou apresentar vcs, um ou outro, pessoalmente. Dois queridos.

Grace, seja benvinda ao blog! A Charlotte morou durante um tempo em Portugal, ela deve saber o que pega por aí...
 
portugal tem poucos lugares gays. pra mulheres, então, quase zero. quando morava aí ia naquela tasca do lado do frágil, no bairro alto. tinha o catedral, que era péssimo. e a trumps, pra dançar. mas era uma coisa 70% homens.
depois tinha o lux, que cabe perfeitamente na descrição heteromix, não é? beijocas portuguesas;
 
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.

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