Barbie ou Falcon?
[por Vange Leonel]da coluna GLS publicada na revista da Folha em 22/1/2006No início do ano, uma
enquete no site da boneca Barbie causou polêmica. Antes de pedir que a criança assinalasse alternativas sobre o que fizeram no feriado de fim de ano (se esquiaram, se tomaram chocolate quente etc.), o site pedia que elas se identificassem por idade e gênero: "sou um garoto", "sou uma garota" ou "não sei o que sou".
O grupo "Mulheres Preocupadas pela América" protestou com veemência contra a terceira alternativa que, sob seu ponto de vista, provocaria uma confusão de gênero na cabeça das crianças. A Mattel, fabricante da boneca, logo apagou o incêndio dizendo que havia sido um engano: o site, que costuma colocar invariavelmente uma alternativa "neutra" em suas enquetes, por distração errou a formulação da terceira alternativa. Rapidinho, mudaram a resposta: de "não sei o que sou" para "não quero dizer".
O episódio me fez lembrar que nunca gostei de brincar com bonecas, talvez porque nunca tivesse encontrado uma que fosse a minha cara, com roupas de rapazinho, cabelos curtos e bola de futebol nas mãos. Claro que a opção "não sei o que sou" soaria infundada para mim (eu sabia que era uma menina), mas se o site propusesse uma alternativa do tipo "menina-moleque", não tenho dúvidas de que me identificaria como tal. Não por acaso, a primeira boneca com a qual brinquei de verdade e com paixão foi um
Falcon ruivo e barbudo, do tipo "aventura na selva", com roupas camufladas e facão para abrir picadas.
Moral da história: gênero é algo com muitas nuances e quem não tem "Barbie Moleca" brinca com Falcon mesmo.
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