Logo após assumir a presidência dos Estados Unidos, Bill Clinton tentou cumprir uma promessa de campanha: aprovar uma lei proibindo as Forças Armadas de expulsar homossexuais de suas tropas. A tarefa, porém, revelou-se inglória. Membros do Partido Republicano e da área militar se opuseram duramente. A solução foi a criação, em 1993, de uma lei meia boca conhecida pela expressão "Don't Ask, Don't Tell" ("Não Pergunte, Não Revele").
A lei, em vigor até hoje, proíbe que governo ou superiores militares perguntem sobre a orientação sexual dos subordinados. Como contrapartida, gays e lésbicas podem servir às Forças Armadas contanto que não revelem sua homossexualidade. Discrição é a regra.
Na semana passada, a veterana do Iraque Amy Brian foi dispensada depois de ser flagrada por uma colega beijando a namorada numa fila de supermercado. "[Ser lésbica] não fez a menor diferença quando me mandaram para o Iraque. Não fez a menor diferença na minha habilidade em servir o meu país", disse Amy. E completou: "Todo mundo sabia que eu era lésbica, e ninguém nunca teve problemas com isso".
De fato, grupos gays sustentam que o Exército americano fez vista grossa nos últimos anos à inclusão de homossexuais abertamente assumidos depois que o recrutamento se tornou difícil e a necessidade de tropas no exterior, mais urgente. Ou seja: na hora do aperto, tanto faz ser gay ou não. Hipocrisia é a regra.
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.