A caminhada, organizadamente desorganizada e, por isso, deliciosamente anárquica, me lembrou os primórdios da Parada Gay, quando eram poucos os que ousavam dar as caras na avenida. O caráter assumidamente feminista do evento, provavelmente, afasta quem só está a fim de carnaval.
Apesar de não gostar dos chavões e das "palavras de ordem" da militância (que, na minha opinião, poderia adotar um tom mais pop para obter maior alcance), sinto que o mundo necessita, urgentemente, de um choque feminista.
Yoko Ono e John Lennon escreveram que a mulher é a escória do mundo ("Woman is the nigger of the world"). Os machistas de hoje, como os de antigamente, adoram xingar Yoko de bruxa e chamar feministas de mal-amadas.
Há algo nesse menosprezo que parece medo. Se Freud concluiu que as mulheres têm inveja do pênis, a contrapartida é que não tememos a sombra ameaçadora da castração.
Na caminhada de sábado, o batuque de lata do grupo Fuzarca Feminista puxou o coro em ritmo de pancadão funk: "Vamos fazer as unhas, uh, uh, siririca!". Quem não tem falo usa os dedos. As meninas sabem se dar prazer.
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.