Nunca fui fumante de fôlego. Quando cantava por profissão, não fumava por motivos óbvios: o cigarro afetava minha voz e era um convite a doenças respiratórias. E, sem garganta, sem pulmão, ninguém canta direito.
Depois que deixei os palcos, voltei a fumar. Mas, mesmo quando fumava, odiava o fumacê exalado por um sem-número de cigarros acesos e tragados em locais fechados. Hoje, há cinco anos sem fumar, não me importa que fumem ao meu lado em espaços arejados. Mas não consigo nem chegar perto da porta de cubículos hermeticamente fechados e pressurizados à base de benzopireno.
Tenho saudades das garotas reunidas, de celebrar ao lado delas, de tocar nos "pick-ups" minhas músicas preferidas, mas o que posso fazer? Nada. Se me jogo na balada, amanheço no dia seguinte combalida, com os cabelos fedidos e uma enxaqueca monstruosa.
Fico pensando em quando voltarei a dançar com as meninas perdidas no delírio coletivo da balada. Quando o cigarro for banido de locais fechados? Muita gente acha esse tipo de lei ditatorial. Como se não fosse uma espécie de totalitarismo insalubre obrigar não-fumantes a inalar passivamente baforadas cancerígenas de cigarros alheios. Será que não há um caminho do meio?
© Folha de S.Paulo
Marcadores: coluna GLS Folha
Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.