Curiosamente (mera coincidência?), a programação da TV aberta brasileira parece seguir diretrizes religiosas. De uns tempos para cá, emissoras adotaram uma atitude mais "liberal", mostrando em suas novelas personagens gays sem estereótipos e não fadados aos finais trágicos de outrora.
Sem dúvida, a atitude de apresentá-los como pessoas até "normais" é bem-vinda. Mas, a exemplo da igreja, as novelas (ou seriam seus telespectadores e patrocinadores?) não admitem personagens gays e lésbicas praticando sua homossexualidade. Enquanto beijos heterossexuais são ostensivamente colocados no ar, os gays da TV só se beijam fora de cena. São, digamos, homossexuais não-praticantes.
Por falar nisso, circulam boatos na internet de que a casa do "Big Brother Brasil 8" abriga dois gays e duas lésbicas. Por enquanto, apenas o psiquiatra Marcelo assumiu sua homossexualidade diante das câmeras. Desconfio que, mesmo que outros participantes saiam do armário, serão poucas as chances de rolar beijo homossexual no horário nobre da TV aberta. Eu não vou pagar pra ver.
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.