Da segunda vez em que fui detida, fui obrigada a confessar meu lesbianismo. Me colocaram numa solitária e me bateram até sangrar. O juiz da corte revolucionária sugeriu que eu cooperasse e entregasse outras lésbicas de Isfahan. Eu me neguei e fui novamente espancada.
Na prisão, havia outras 38 mulheres encarceradas por serem lésbicas. Eu era torturada todos os dias até que me condenaram à morte por enforcamento. Mas consegui escapar da prisão pagando propinas e apelando para pistolões.
Saí do Irã e vim para a Turquia, refugiada. Mas continuo isolada. O medo é meu companheiro constante. As lésbicas iranianas não podem sequer levar uma vida secreta. Ninguém lá aceita que uma mulher more sozinha ou sem um homem ao lado. Se eu pudesse, resgatava todas de lá."
Este é o relato resumido de uma lésbica iraniana à IRQO (IRanian Queer Organization), grupo que, entre outras tarefas, tenta impedir a deportação de homossexuais refugiados de volta ao Irã.
Aqui no Brasil, lésbicas estão em situação melhor. Mesmo assim, muitas garotas preferem levar vidas secretas, permanecendo invisíveis. Por quê? Medo infundado? Ou a homofobia (velada ou descarada) ainda paira no ar por aqui?
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.