coluna GLS publicada na Revista da Folha em 19/08/2007
[por Vange Leonel]
Um leitor me enviou um e-mail dizendo que, ultimamente, tem cometido algumas gafes em relação às mulheres que paquera. Todas, coincidentemente ou não, têm rejeitado suas investidas dizendo que são lésbicas. Seria apenas uma desculpa para lhe dar “um fora mais educado”? Ou elas, de fato, seriam lésbicas? Como saber se uma garota é homossexual? O leitor pede dicas para reconhecer uma lésbica de antemão.
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Quando caía de amores por alguém, sentia-se a caminho de um destino ignorado, rumo a um ponto indefinido em meio à vastidão. Ou então navegando a esmo, em dupla, num pequeno barco à deriva que embalasse dois corações muito próximos.
A aventura amorosa era para ela um salto no escuro. Por isso, evitava dizer que seu amor era eterno. Achava absurda a tentativa de estabelecer verdades categóricas sobre uma relação amorosa. Para ela, pretender conhecer de antemão o desconhecido era uma contradição em termos.
Mesmo à medida que o amor se desvendava, tinha para si que nunca saberia ao certo o jeito, o peso ou a direção do próximo passo. Podia, obviamente, planejar a duas uma casa, um jantar e até uma filha. Mas, por mais que previsse as possibilidades de um cano estourado, um bife queimado ou um filho rebelde, não tinha a pretensão de adivinhar o futuro da casa, do jantar e do filho.
Da mesma maneira, sabia ser o amor imprevisível. Sentia que, quanto mais o deixasse livre para ser o que fosse, sem defini-lo ou aprisioná-lo em idéias preconcebidas, mais chances teria de ser feliz com aquele amor.
Por se saber incógnito, aquele seria um amor capaz de se revelar aos poucos. Sólido, sedutor e misterioso, sem promessas frágeis ou ilusões preguiçosas.
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.