Mas, se concordamos com a importância de relatar até os sintomas mais constrangedores, a revelação de outras particularidades gera controvérsia. Por exemplo: um paciente deve ou não revelar sua orientação sexual?
Há casos em que a prática sexual pode fornecer subsídios importantes para o tratamento e/ou diagnóstico. Nesse caso, a revelação da homossexualidade torna-se crucial.
O problema é que muitos médicos não estão preparados para lidar com a homossexualidade de seus pacientes. Quem se revela gay pode se deparar com um profissional compreensivo, mas corre também o risco de encontrar um médico homofóbico que o hostilize ou o menospreze. Quem pode pagar escolhe um médico mais ético. Quem utiliza a rede pública, porém, fica à mercê da sorte.
Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde (da rede pública ou não) encarem a homossexualidade dos pacientes sem constrangimento ou preconceito.
Além disso, o suporte afetivo, importante para qualquer processo de cura, geralmente provém do parceiro do paciente. Quando fui operada, por exemplo, os médicos sabiam que deveriam informar a minha namorada sobre o andamento da cirurgia e consultá-la no caso de complicações. Saber que ela estaria ali ao lado e seria respeitada me fez tão bem quanto o tratamento médico.
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Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.