"Strange Fruit" foi composta por um professor judeu que lecionava num bairro negro. Horrorizado, após ver uma foto com negros linchados e pendurados como frutos numa árvore, decidiu escrever uma canção de protesto. Mortos por brancos racistas e deixados ao relento para que os corvos os devorassem, aqueles negros eram os "estranhos frutos" da canção.
O racismo, em especial no Sul dos Estados Unidos, era crônico. Por muito tempo, a organização racista denominada Ku Klux Klan praticou atos de violência contra negros. Defensores da supremacia branca, eles se escondiam atrás de alvas túnicas e capuzes pontudos para linchar, espancar e matar.
Depois da conquista de direitos civis pela população negra, essas organizações foram perdendo espaço. Mesmo assim, racistas continuam a existir acreditando que negros e brancos não devem viver juntos.
Há poucas semanas, um gangue vestindo roupas pretas e coturnos atacou um professor universitário gay que circulava pacificamente por um bairro nobre em São Paulo. Ele foi espancado, chutado e teve os dentes arrancados.
Não foi pendurado em nenhuma árvore. Foi deixado no asfalto como fruta pisada.
© Folha de S.Paulo
Marcadores: coluna GLS Folha
Cantora, compositora, colunista GLS e proto-escritora. Lésbica e feminista. Atualmente assina a coluna GLS da Revista da Folha no jornal Folha de S.Paulo e a coluna "Vange Leonel" no Mix Brasil.