Mãe de todas
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 17/09/2006
por Vange Leonel Ela ouviu blues pela primeira vez aos 14 anos na virada do século. Logo se apaixonou pelo ritmo e iniciou uma carreira como cantora que teve seu auge na década de 20. Seus shows, no entanto, não se resumiam à música.
Ma Rainey fazia comédia e provocava a platéia com seu humor sacana.
Bissexual, em 1928 gravou a música "
Prove it on me", em que desafiava a polícia a provar que ela fazia sexo com mulheres. Numa época em que o amor homossexual era ilegal, Ma cantava despudoradamente: "não gosto de homens" e "paquero as moças que passam por mim".
Certa vez, a cantora levou uma turma de garotas ao seu apartamento para uma festinha íntima. Fizeram tanto barulho que os vizinhos chamaram a polícia. Quando os tiras chegaram, encontraram mulheres nuas correndo atrás de roupas espalhadas pelo chão enquanto outras fugiam pela porta. Ma apanhou uma saia que não era sua, escorregou no degrau da escada e foi alcançada por um policial. Levada à delegacia, foi encarcerada, acusada de indecência. No dia seguinte, sua amiga Bessie Smith (que alguns dizem ter sido sua amante) pagou a fiança e Ma saiu pronta para outra.
Morreu em 1939 de ataque cardíaco, quase esquecida. No atestado de óbito constava, equivocadamente, a profissão de empregada doméstica. Hoje, ela figura no Hall da Fama do Blues e também no do Rock'n Roll. Todas as roqueiras de atitude são suas herdeiras.
© Folha de S.Paulo