Divulgação Científica
Sou leitora habitual de livros de divulgação científica, mais especificamente primatologia, bioantropologia e evolução. Como já faz tempo que não comento nenhuma das minhas leituras aqui no blog, vou falar de três livros que li recentemente:
nome: "The case of female orgasm - bias in the science of evolution"autora: Elizabeth Loyd
assunto: Loyd analisa todas as teorias bioevolutivas que tentam explicar a existência do orgasmo feminino.
revelação interessante: Loyd expõe falhas de estatística e amostragem em pesquisas que tentaram provar a capacidade do útero de sugar esperma durante o orgasmo. São pesquisas sempre muito citadas (inclusive no livro de Fisher, abaixo) para sustentar que orgasmo feminino influiria no sucesso reprodutivo das fêmeas humanas e, portanto, seria adaptativo.
meu comentário: ótimo livro. Vale pela análise cuidadosa e pela detecção de vieses adaptacionistas e androcêntricos contidos na maioria das teorias sobre o orgasmo feminino.
nome: "Why we love - the nature and chemestry of romantic love"autora: Helen Fisher
assunto: os hormônios que atuam no cérebro quando acontece o amor romântico (que é diferente do amor passional e do desejo puramente sexual).
revelação interessante: nos primeiros dois anos de relacionamento amoroso a norepinefrina parece agir intensamente. Depois desse tempo (prazo de duração média de uma paixão) a norepinefrina sai de cena para dar lugar à ocitocina, hormônio do amor tranquilo e duradouro (que é também secretado pela mãe quando amamenta um bebê).
meu comentário: livro fraco. Num exemplo de como não se deve divulgar ciência, a autora exagera as simplificações e se torna presa fácil de determinismos e da (falsa) dicotomia cultura/natureza. Apenas no finalzinho do livro ela faz a ressalva de que não são apenas os hormônios influem no comportamento humano, mas o comportamento pode também influir no secreção destas substâncias.
nome: "The talking ape - how language evolved"autor: Robbins Burling
assunto: o autor tenta elaborar sua própria hipótese sobre o surgimento da fala humana em contraponto às hipóteses existentes.
revelação interessante: a exemplo das melodias dos gibôes, Burlings sustenta que a passagem das vocalizações dos nossos ancestrais primatas para fala humana atual se deu através da música cantada.
meu comentário: livro excelente. Abrangente, cuidadoso, Burlings não cede à tentação de antagonizar cultura e natureza. De quebra, implode outra dicotomia de sua área, buscando intersecções nos campos da linguística e da teoria da evolução.