Trabalho de "formigayinha"
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 20/08/2006por Vange LeonelApesar de as estatísticas apontarem um alto índice de homofobia no país, muitos gays e lésbicas escolhem viver fora do armário. Afinal, ser homossexual não é motivo para vergonha. Difícil em alguns aspectos, o momento da revelação da homossexualidade é principalmente catártico, trazendo o alívio de finalmente ser o que se é. Mas manter essa liberdade de ser o que se é exige esforço contínuo. Como o conservadorismo nos costumes subsiste por inércia, impregnado na malha social, gays e lésbicas vêem-se compelidos a sair do armário repetidas vezes.
Vamos imaginar que você seja lésbica e já tenha revelado sua orientação homossexual para a família, os amigos e no trabalho. Um dia, você começa a fazer ioga, se enturma com as colegas e, no final da aula, elas perguntam: e seu marido, não gosta de ioga? Pronto! Eis um momento em que é preciso sair do armário mais uma vez, visto que o conservadorismo supracitado faz quase todos presumirem a heterossexualidade como norma.
Assim, saímos do armário várias vezes por dia lembrando ao operador de telemarketing, à gerente do banco ou à vendedora de uma loja (por um motivo ou outro) que somos homossexuais. Tornar a saída do armário algo corriqueiro, leve e cotidiano é fazer um trabalho de formiguinha, mas muito eficiente, contra a homofobia. Quem sabe, um dia, ninguém irá estranhar homossexuais.
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