Ninguém é normal
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 23/07/2006por Vange LeonelHouve um tempo em que homossexuais eram basicamente descritos como pessoas perversas, de mau- caráter ou pobres coitados. Poucos eram os filmes e livros em que gays e lésbicas recebiam um olhar menos trágico ou triste.
Nas últimas décadas, graças à pressão de ativistas, do público GLS e por meio da ação consciente de alguns criadores e produtores de entretenimento, gays e lésbicas passaram a figurar cada vez mais como pessoas boas e "normais".
Por séculos, a imagem de gays e lésbicas foi a pior possível. Por isso, para eliminar o efeito nefasto do preconceito atávico e do ódio aos homossexuais, houve até uma tendência a sua glorificação. A verdade, porém, é que não somos nem deuses nem escória: somos apenas demasiadamente humanos.
Obviamente, ainda protestamos justificadamente contra eventuais (e persistentes) comentários e retratos ofensivos que fazem de nós, gays e lésbicas. Por outro lado, é bom que exista uma série de TV como
"The L Word" (na Warner, aos domingos, às 23h), sobre um grupo de amigas lésbicas cheias de qualidades, mas também de defeitos. Entre a fiel provedora do lar que trai a companheira, a advogada de direitos civis que assedia uma cliente e a ninfomaníaca namoradeira às voltas com o próprio ciúme, as personagens são todas multifacetadas. Há drama, comédia e política. Feito por lésbicas, sobre lésbicas, para todo tipo de gente.
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