O fantasma do futebol
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 11/06/2006por Vange Leonel
"Não tiraria da Copa, mas acho que ele nem seria convocado para uma seleção brasileira. É situação inédita para mim, então é difícil dizer como reagiria. É assunto difícil de lidar". Foi o que disse Carlos Alberto Parreira à revista "Isto É" após a convocação, respondendo sobre o que faria se descobrisse algum jogador gay na seleção. Depois, arrematou: "Fala-se muito em homossexualismo no futebol, mas pessoalmente nunca vi".
A impressão que fica é a de que não há coisa que incomode e assuste mais o amante e o praticante do futebol que a provável existência de jogadores gays. A homossexualidade parece ser o grande fantasma do esporte: muitos comentam, ninguém confirma. O fantasma nunca é visto, mas se torna popular, tantos são os indícios de sua existência.
Depois que Martina Navratilova revelou-se lésbica, o esporte feminino tem visto atletas de ponta assumirem sua homossexualidade, caso da tenista Amélie Mauresmo e da jogadora de basquete Sheryl Swoopes. No esporte masculino, parece que não há clima para sair do armário. Por quê? "Mulher-macho" pode, mas gay não combina com a macheza do esporte? Quem disse que gay não é macho? Aliás, quem disse que esporte é coisa de macho? A torcida uniformizada enfurecida com pedras nas mãos? Hipermasculinidade é desequilíbrio.
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