Sangue Africano
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 4 de abril de 2010
por Vange Leonel Falta pouco. Em junho, o futebol brasileiro estreia em uma Copa do Mundo que, pela primeira vez na história, irá acontecer em solo africano. Muito justo. Sempre correu sangue africano nas veias dos maiores craques do esporte bretão.
Não bastasse, a África é o berço de toda a humanidade. Podemos ter a cor da pele mais clara ou mais escura, olhos menos ou mais puxados, mas todos temos um ancestral comum -e ele é africano.
Infelizmente, nossa "Mãe África" tem seu solo encharcado de sangue. Sangue derramado por colonizações predatórias, tráfico de escravos, intermináveis disputas étnicas, governos corruptos, guerras civis, terrorismo, segregação racial e um sem-número de infortúnios.
Há também muito sangue despejado pelas meninas que sofrem ablação compulsória de seus clitóris e por milhares de mulheres estupradas diariamente em casa e nas ruas.
A África do Sul, sede da Copa, registra um dos mais altos índices de estupro por gangues. Há dois anos, escrevi aqui sobre Eudy Simelane, meio-campista da seleção de futebol sul-africana, violentamente estuprada e morta por vizinhos. Lésbica assumida, a jogadora sofreu o que lá é chamado de "estupro corretivo": "aprendeu na marra" que mulher tem que gostar é de homem.
Quando ligarem a TV e ouvirem explodir as vuvuzelas (cornetas dos torcedores), lembrem do sangue no continente que nos pariu.
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