O show de Ellen
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 21/09/2008
por Vange Leonel Ela foi uma das primeiras celebridades a assumir sua homossexualidade para o grande público, há pouco mais de uma década. Não satisfeita, tirou do armário a personagem homônima que interpretava num seriado de TV num arroubo de ineditismo e coragem. Comediante prestigiada, querida por fãs e colegas, foi apresentadora do Oscar em 2008.
Recentemente, foi indicada uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela "Time". Há cinco anos, comanda um talk-show recordista de prêmios Emmy que estreou há poucos meses no Brasil: o "
The Ellen DeGeneres Show" (de segunda a sexta, às 17h, no canal a cabo
Warner).
Em seu programa, Ellen DeGeneres já
fez o candidato a presidente Barack Obama dançar,
quebrou uma garrafa cenográfica na cabeça de Sandra Bullock e
disse poucas e boas para o candidato John McCain, contrário ao casamento gay (esses momentos e muitos outros podem ser vistos no YouTube).
No dia seguinte à decisão da Corte da Califórnia de suspender a proibição ao casamento gay, Ellen anunciou em rede nacional que iria se casar com sua namorada, a atriz Portia de Rossi.
O casório aconteceu há algumas semanas numa cerimônia privada com poucos convidados. Ellen desabafou: "Um dia as pessoas irão olhar para trás e ver que [o veto ao casamento gay] é como a proibição do voto às mulheres e a segregação racial e que é simplesmente ridículo não termos todos os mesmos direitos".
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As lentes da biologia
coluna GLS publicada na Revista da Folha em 07/09/2008
por Vange Leonel O comportamento humano tem sido analisado à exaustão por meio das lentes da biologia. A psicologia evolucionista afirma, por exemplo, que mulheres são, em média, instintivamente menos promíscuas se comparadas aos homens. Justificativas biológicas para o comportamento humano geram tanto paixão quanto controvérsia. Se por um lado seus defensores pecam pela simplificação, os detratores parecem não compreender a dinâmica e as limitações da tal "influência biológica".
Somos governados por instintos ou somos construções culturais? Seria uma boa pergunta se a dicotomia não fosse falsa como uma nota de três reais. Esses fatores não são excludentes, e isso só aumenta a obrigação de explicar o comportamento humano como fruto de forças complexas. Mas por que falar disso aqui? Porque a explicação para o comportamento homossexual sempre esteve no fogo cruzado entre justificativas biológicas e culturais. Sou lésbica porque nasci deste jeito ou porque as experiências pelas quais passei me fizeram assim?
Nada é tão simples. O filósofo
Daniel Dennet resumiu em "
A Perigosa Idéia de Darwin": "Enquanto os animais são rigidamente controlados pela sua biologia, o comportamento humano é em grande parte determinado pela cultura, um sistema autônomo de símbolos e valores, originando-se de uma base biológica, mas afastando-se indefinidamente dela". Pois é, o futuro é dos ciborgues.
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